Indicações de episiotomia: o limiar entre o necessário e a violência obstétrica
Episiotomia é um procedimento cirúrgico realizado pelo obstetra no momento do parto via vaginal, também conhecido por parto normal, e consiste em uma incisão no períneo por meio do bisturi e tesoura para aumentar a abertura vaginal e facilitar a saída do feto durante o trabalho de parto. Sua sutura (fechamento) é chamada de episiorrafia, chamada pelos obstetras de “ponto do marido” e é realizada com fio cirúrgico absorvível pelo organismo
Atualmente esta prática tem sido empregada de forma rotineira e vem sendo questionada por gestantes, familiares e principalmente por mulheres que realizaram partos via vaginal com episiotomia e que possuem alguma complicação decorrente da técnica. É importante ressaltar que a episiotomia é um procedimento realizado sem o consentimento da gestante/ parturiente, motivo pelo qual inúmeras mulheres vítimas das complicações da técnica estão processando (e ganhando a causa) vários obstetras alegando serem vítimas de violência obstétrica .
Vale aqui refletir sobre a importância da decisão e esclarecimento da mulher sobre tudo o que é realizado no seu corpo, é necessário que a gestante conheça esse procedimento, assim como seus benefícios e desvantagens, evitando muitas vezes uma episiotomia desnecessária e inclusive, sabendo que pode sim recusar tal procedimento, exceto é claro nos casos em que há indicação absoluta. Estas informações devem ser bem estabelecidas durante o pré-natal, período no qual o médico possui obrigação de informar e tirar todas as dúvidas da gestante em relação à gestação e parto.
De acordo com a OMS (Organização Mundial Da Saúde) as principais indicações de episiotomia são:
#01 – Sofrimento fetal;
#02 – Progressão insuficiente do parto;
#03 – Iminência de laceração de 3º grau (quando há grande risco de lesões que afetem o esfíncter anal).
Já alguns autores acrescentam que tal prática também deve ser realizada:
#04 – Em todas as primíparas (gestação do primeiro filho);
#05 – Mulheres com relato /cicatriz de episiotomia anterior;
#06 – Feto macrossômico (feto muito grande);
#07 – Rigidez perineal;
#08 – Prematuridade (trabalho de parto com menos de 37 semanas de idade gestacional).
Dessa forma não há consenso entre as indicações e os benefícios da técnica. Porém as complicações decorrentes da mesma já estão muito bem estabelecidas, e incluem:
#01 – Infecções;
#02 – Dor e edema na ferida operatória;
#03 – Hematomas;
#04 – Hemorragias;
#05 – Deiscência de suturas (abertura dos pontos antes da completa cicatrização);
#06 – Abscesso;
#07 – Fístula retovaginal (comunicação entre vagina e reto);
#08 – Incontinência de gases e fezes;
#09 – Alteração da estética perineal ( o que atrapalha ou inibe a relação sexual de várias mulheres);
#10 – Dispareunia (dor durante a relação sexual);
#11 – Celulite;
#12 – Rotura de períneo;
#13 – Óbito (como desfecho de uma série de complicações associadas).
Nota: Isso não significa que todas as mulheres que são submetidas a episiotomia terão essas complicações. Trata-se de uma lista de possíveis complicações.
Em cerca de 90% dos partos via vaginal feitos em hospitais da América Latina é realizado a episiotomia (53,3% dos partos no Brasil), o que gera um custo de cerca de 134 milhões de reais ao ano, só com o procedimento cirúrgico (no qual é utilizado anestesia, bisturi, tesoura e fio cirúrgico, materiais que possuem custo), sem contabilizar os custos decorrentes das complicações do procedimento. Há também um valor que é imensurável e é “pago” pelas mulheres vítimas da técnica incorreta ou sem indicação, como o sofrimento físico principalmente nos casos em que a anestesia não é utilizada e o sofrimento emocional, decorrente principalmente das complicações da episiotomia e da deformação do períneo.
Este assunto é inesgotável e gera muita polêmica no meio médico e acadêmico, pois ainda hoje a episiotomia é realizada de forma indiscriminada, sem consentimento da paciente e o mais importante, a técnica é ensinada nas faculdades de medicina sem o questionamento do aluno sobre suas indicações ou benefícios para a parturiente.
Todos os dias somos bombardeados com informações contra ou a favor da técnica, dessa forma é muito importante que não só o médico obstetra e os demais profissionais da saúde se atualizem com artigos científicos, mas também a população, principalmente as gestantes para que elas decidam se querem ou não que a técnica seja utilizada.
Crédito da imagem: myrome.org (Click aqui)
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